O que é?

Artesanato

Artesanato é a arte de criar objetos por meio da transformação da matéria-prima, usando as mãos como o principal instrumento de trabalho. As ferramentas e equipamentos são sempre auxiliares, não se sobrepondo ao fazer manual.

A produção artesanal envolve diferentes etapas, como a obtenção da matéria-prima, seu processamento, a confecção de objetos e a comercialização. Ela pode ser realizada por um indivíduo ou por um grupo, dependendo do processo produtivo e das condições geográficas, ambientais, sociais e econômicas da comunidade. Muitas vezes é acompanhada de ações como cantos, rezas, rituais e festas que conectam o trabalho artesanal a outros aspectos da vida, como a religião e o convívio social.

O artesanato sempre manifesta aspectos individuais e coletivos. As escolhas, os gestos e o ritmo do artesão ficam registrados no objeto, assim como as características estéticas, valores e a identidade cultural compartilhados por um grupo de pessoas.

Artesanato Tradicional



O artesanato tradicional compreende os saberes e modos de fazer artesanal que são passados de geração em geração em uma comunidade. Os objetos tradicionais fazem parte do modo de vida das pessoas de um local, em atividades cotidianas ou eventos importantes. Eles materializam valores culturais ancestrais, transmitindo histórias e conhecimentos ao longo do tempo.

O artesanato tradicional possui um sentido ampliado, pois não diz respeito somente às técnicas de criação. Ele compreende os conhecimentos do artesão sobre o lugar onde vive, os ciclos naturais da matéria-prima, as mudanças de ritmo ao longo do ano e as relações com outras formas de trabalho, como a agricultura e a pesca. Por isso, ele constitui a identidade de um povo, local ou etnia.

Como o artesanato tradicional só pode ser produzido enquanto os modos de vida que o sustentam continuarem a existir, ele é uma importante ferramenta de resistência cultural e política. Por meio do artesanato, grupos tradicionais como quilombolas, ribeirinhos e indígenas afirmam as singularidades de suas culturas, reivindicando a importância e o direito de preservar seus conhecimentos, modos de fazer e de viver.

Mas por mais que seja passado de geração em geração, o artesanato tradicional não é imutável, feito da mesma maneira desde que surgiu. Assim como o artesão e a comunidade, ele é vivo e se transforma ao longo do tempo. Matérias-primas e ferramentas deixam de ser usadas e novas são adotadas. Um exemplo é a renda irlandesa, que antigamente tinha a base feita com renda de bilros pelas próprias rendeiras, mas que hoje utiliza lacês industrializados. Essa mudança diminui o trabalho e o tempo dedicados a uma peça e proporciona melhor acabamento, eliminando os franzidos para fazer as curvas. Essas mudanças refletem as transformações e os problemas da sociedade, mas não alteram os modos de fabricação e a importância cultural desses objetos. Por isso, esses modos de conhecer e fazer continuam sendo tradicionais, mesmo se transformando. 

Artesanato Brasileiro

O artesanato brasileiro é produzido em todos os estados do território nacional e reflete a diversidade étnica das populações que formam o país: etnias indígenas, grupos africanos escravizados, imigrantes europeus e de outras partes do mundo. Por causa dessa enorme variedade cultural, é difícil encontrar apenas um traço que identifique todas as formas de produção artesanal do Brasil.

As características naturais de cada região e as relações que os grupos estabelecem entre si são alguns dos fatores que explicam a diversidade de matérias-primas, expressões e modos de fazer encontrados no artesanato brasileiro. Por isso, existem variações regionais de uma mesma técnica. Os pontos da renda de bilros, por exemplo, recebem nomes diferentes dependendo da localidade. Os próprios bilros também mudam, pois em Raposo (MA) são de taboca e coco de macaúba, mas em Florianópolis (SC) de madeira torneada.

Atualmente, a maior parte dos artesões brasileiros tem 40 anos ou mais e atua no setor há pelo menos 10 anos, sendo que mais da metade são mulheres. As matérias-primas mais utilizadas são de origem vegetal, principalmente tecidos, madeiras e fios.

Arte Popular

Arte popular compreende todas as manifestações artísticas que expressam temáticas e valores culturais de um povo ou comunidade, criadas por artistas sem formação acadêmica em artes.

Por mais que os artistas populares não tenham uma formação acadêmica em arte, diferentes tipos de conhecimentos são necessários para criar suas obras. Um artista popular que cria objetos, por exemplo, precisa ter domínio das suas técnicas da mesma forma que um artesão.

Tanto a arte popular quanto o artesanato expressam os modos de ser e viver de um povo, de um lugar, mas existem diferenças. Enquanto o objeto artesanal é produzido principalmente para atender alguma necessidade de uso, o objeto artístico busca proporcionar uma experiência estética. Assim, por meio de suas formas, cores e temáticas, a arte popular tem a intenção de provocar sentimentos e reflexões de uma forma original, sempre a partir do ponto de vista particular do artista que assina a obra.

Artesanato indígena



Refere-se aos conhecimentos e modos de fazer tradicionais dos diferentes povos indígenas que vivem em território brasileiro. Atualmente, existem 305 etnias indígenas no Brasil, falando 274 línguas.

Os objetos são criados para diferentes finalidades e os mais conhecidos são os cestos trançados, as cerâmicas e os ornamentos, como colares e pulseiras. A produção artesanal é realizada de acordo com as regras culturais específicas de cada povo. Por isso, as bonecas de cerâmica karajá são modeladas apenas por mulheres.

Como todo saber tradicional, o artesanato indígena está em constante transformação. O fungo përsi, por exemplo, só começou a ser utilizado na cestaria Yanomami na década de 1970. Já os Krahô utilizam miçangas industrializadas, além das tradicionais feitas com sementes do cerrado.

Essas mudanças, como a utilização de matérias-primas e ferramentas não-indígenas, não diminuem a importância cultural do artesanato indígena. Pelo contrário, elas materializam as mudanças históricas e sociais do grupo, além de expressarem a criatividade dos artesãos.