Rosalvo Santana

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Contato Rosalvo Santana

As mãos que criam, criam o quê?

Das mãos de seu Rosalvo, nascem imagens sacras que parecem flutuar no movimento e nas formas que dá ao barro. Véus, vestimentas e nuvens que se expandem como algas e envolvem suas peças. Observar o trabalho de Rosalvo é como um mergulho, onde infinitas camadas se apresentam diante dos olhos, sendo quase impossível não se perguntar: “como ele conseguiu tamanha delicadeza?”.

Rosalvo, que teve seu primeiro contato com o barro ainda pequeno, comentou que sentava na olaria do seu pai e criava figurinhas anatômicas. Seu pai produzia cerâmicas utilitárias e sempre estimulou os filhos a estudarem, não via futuro em perpetuar a tradição da cerâmica na família. Foi assim que Rosalvo foi viver em Salvador. Estudou e trabalhou durante anos e mantinha o ateliê onde continuava transformando barro em cerâmica.

Um dia chegou uma cliente ao ateliê e perguntou porque ele não fazia imagem de santos. Rosalvo, que costuma ter ouvidos atentos, fez sua primeira imagem sacra, Nossa Senhora da Conceição, em miniatura.

Fez a Santa pensando na feira do Caxixi (miniaturas), levou uma única imagem sacra, por descuido esbarram na imagem e quebraram uma pontinha. Seu Rosalvo que já estava meio desesperançado de vender a peça, foi surpreendido por uma senhora que comprou a imagem, mesmo quebrada e pagou o dobro do valor pedido. Desde então seu Rosalvo cria e se conecta ao barro através da fé.

Quem cria?

 

Foto: Agliberto Lima

Rosalvo, filho de Aniordes Santana, mestre da cerâmica utilitária, cresceu entre o barro e o calor dos fornos, observando a transformação da terra em objeto de uso cotidiano. Rosalvo conta que ia para igreja e ficava encantado, admirando as imagens e esculturas que via, muitas vezes corria para a olaria do pai e tentava fazer.

Por não se identificar com a produção de cerâmicas utilitárias, Rosalvo confessa que não dava muita atenção aos processos do pai, como o ponto de queima, a forma de colocar no forno, etc.

 “Porque a gente pensa que o nosso pai vai estar ali pra sempre. Pra perguntar, tirar dúvida... Só no final da vida dele eu me dei conta que queria ter aprendido mais com ele”.

Rosalvo diz que muitas das características que tornam seu trabalho único foram sendo desenvolvidas ouvindo os próprios clientes.

“O povo me chama de mestre, mas eu gosto de ouvir. Eu gosto de ouvir a opinião do outro. Eu antes fazia as imagens sem movimento, bem retas, parecia que elas estavam fazendo foto pra documento. Então as pessoas chegavam e me diziam, você podia dar mais movimento no cabelo, no corpo...”

Ele conta que quando ia participar de alguma exposição notava que os artesãos sempre faziam o mesmo estilo. Então resolveu se atentar aos detalhes, recebendo grande influência do barroco e rococó.

“A maioria dos artistas tem dificuldade de fazer rosto, mãos, etc. Eu decidi focar nisso”.

Onde cria?

Rosalvo criou-se em Maragogipinho, distrito de Aratuípe, cidade ribeirinha ao Rio Jaguaripe, a 90 km de Salvador, considerado um dos maiores polos cerâmicos da América Latina com aproximadamente 78 olarias.
O município de Aratuípe conta com aproximadamente 9 mil habitantes e tem sua economia fundamentada na produção de cerâmica e extração de dendê, piaçava e culturas agrícolas. O município é cortado pelo Rio Jaguaripe, tem clima úmido e regiões de manguezais. A tradição das olarias traz consigo as heranças ameríndias da região, que antes da colonização, era povoada pelos Aimorés que faziam panelas e peças utilitárias em cerâmica.

Ele conta que, por ser um dos primeiros a trabalhar com imagens sacras em Maragogipinho, que tinha sua tradição focada na cerâmica utilitária, muitas das técnicas que utiliza foram desenvolvidas através de estudos e pesquisas independentes.

“O barro daqui é ótimo para trabalhar em peças utilitárias, mas, para fazer um trabalho mais refinado, ele não serve. Eu tive que fazer várias misturas de barro, ir fazendo testes para poder dominar o barro. Faço a decantação do barro pra ele ficar mais flexível para poder dobrar, se tiver areia ele quebra. Esse barro é adquirido a 10 km daqui, em Aratuípe. Compra meia caçamba dele bruto ao invés de tratado e faz o beneficiamento”.

Rosalvo conta que a própria queima teve que ser adaptada. No início mandava para queimadores, porém, as peças muitas vezes estouravam por serem queimadas como peças utilitárias, que são mais rústicas e robustas. Quando percebeu que estava perdendo muitas de suas peças, decidiu ele mesmo pesquisar e fazer a queima.