
Rodney Paiva

As mãos que criam, criam o que?
“O artesanato trabalha a mente da gente, trabalha o ser humano. Quando eu estou na oficina, eu esqueço de tudo. Quando eu vejo a peça pronta é muito lindo, é uma coisa que só Deus mesmo pra dar inspiração pra gente. Pegar uma madeira ali que já está no lixo e transformar aquilo em uma peça linda, não tem preço”.
Rodney une sua imaginação com a biodiversidade da região, para a criação das biojóias. São colares, pulseiras, brincos e bolsas feitos com madeira de refugo (que foram descartadas) e sementes que ela mesma coleta. Depois do beneficiamento que é feito por uma pessoa especializada, Rodney faz o polimento e o tingimento. Para essa etapa, utiliza tanto pigmentos naturais, como casca de cebola, como tintura para tingir roupa. As sementes que mais utiliza são de Jarina, uma palmeira típica da floresta amazônica; da paxiúba e do açaí. Por serem de reaproveitamento, as madeiras são variadas, mas as mais comuns são a de maracatiara, jaqueira, morapiranga e paxiúba.
Quem cria?
“Foi uma caminhada muito longa, muito difícil, mas eu não desisti. Essa palavra não existe pra mim. Eu tenho muita fé”.
Rodney Paiva é amazonense e vive em Rio Branco, desde 2003, quando acompanhou o esposo que havia recebido um convite de trabalho na capital acreana. No Amazonas, trabalhava como cabeleireira, vendedora, entre outras coisas, mas não hesitou em dizer sim à possibilidade de viver coisas novas. Foi assim que o artesanato entrou em sua vida.
Em Rio Branco, começou a fazer cursos variados voltados para o segmento, oferecidos pela Fundação Bradesco e pelo Sebrae. Beneficiamento de madeira e sementes, melhoramento, acabamento, empreendedorismo foram alguns deles.
A sua dedicação em aprender e se aperfeiçoar sempre mais lhe trouxe grandes presentes, como o Prêmio de Excelência da Unesco que ganhou em 2012, o TOP 100 do Sebrae em 2015 e o Prêmio Grande Negócio em 2017.
Onde cria?
Rio Branco é a capital do estado do Acre, região cuja história é marcada pelo ciclo da borracha e pelos conflitos políticos que culminaram com a criação do Acre Território, após o fim da revolução acreana. Somente em 1962 o Acre foi transformado em estado. Mas mesmo todos os difíceis processos pelos quais a região passou, toda a violência, principalmente contra as comunidades indígenas locais, a região segue marcada pela presença de mais de 15 etnias indígenas, como Kaxinawa, Arara, Jaminawa, Ashaninka, Madija, entre outros - sendo algumas aldeias isoladas.
A diversidade se faz presente também na vegetação, pertencente ao bioma amazônico. Inúmeras palmeiras, árvores, sementes, aves, felinos, entre outros animais, colorem a região e inspiram a imaginação dos artistas e artesãos que podem unir a sabedoria e o conhecimento populares com as belezas vivas da floresta.
Diante de um processo de desmatamento que tem arrasado com a biodiversidade de tantas regiões brasileiras, o Acre parece um oásis. Mas, talvez por se tratar de um estado recente, ainda marcado pelos conflitos do passado, há pouca consciência da importância, da riqueza e da beleza da região.
Rede nacional do artesanato
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