
Seringô
As mãos que criam, criam o que?
Encauchado de vegetais da Amazônia é o nome da borracha natural produzida em seringais nativos por comunidades indígenas e de caboclos, a partir da mistura do látex com fibras vegetais como resíduos da indústria do açaí. O material foi desenvolvido através de pesquisas acadêmicas aliadas ao saber popular de indígenas, seringeiros e outros moradores da floresta. Os experimentos que tiveram início há 20 anos no Acre culminaram na criação de uma linha de produtos diversificada e de design arrojado que inclui sandálias, biojoias, jogos americanos. cachepôs e sousplats. Esses últimos são inspirados nos desenhos, formas, texturas e cores das folhas da Floresta Amazônica, como a folha capeba, a vitória-régia, a apuí, entre outras. Atualmente, a organização está no processo de criação de uma nova marca de produtos chamada Seringô a partir dessa borracha orgânica.
O grande diferencial desses produtos é a tecnologia social que transformou o processo industrial de “vulcanização” (que origina a borracha) em um processo artesanal de manuseio do látex. Na prática, o composto base que seria usado na indústria é desidratado naturalmente e se transforma em borracha vegetal no meio da floresta, com o moldes artesanais, sem necessidade de energia elétrica, máquinas ou estufas, ou seja, com uso racional de recursos naturais.
Quem cria?
Seringô é uma instituição que trabalha na área área ambiental com ações que aliam desenvolvimento comunitário, inovação e cultura. O foco é o fortalecimento de comunidades tradicionais e indígenas a partir de processos que dão ao produtor acesso à tecnologia e o direito de empreender e fabricar produtos prontos com maior valor agregado, ao invés de vender matéria-prima para a indústria. O grande objetivo é estimular os moradores da Amazônia a fazer uso de recursos naturais de forma racional. Entre os grupos envolvidos com a produção dos encauchados estão, os moradores de terras indígenas da Amazônia Legal como, por exemplo, as terras Katukina/kaninawá de Nova Olinda no município de Feijó no Acre. A sede principal do instituto, porém, fica em Castanhal, no Pará.
Onde criam?
As pesquisas que resultaram no desenvolvimento da tecnologia utilizada no Polo Probio nasceram através dos estudos do ecologista Francisco Samonek, da Universidade Federal do Acre, junto a indígenas e seringueiros do município Vila Acre. Posteriormente, a tecnologia foi replicada em outros destinos da Amazônia, estimulando a reativação de seringais nativos no Acre, Amazonas, Rondônia e Pará, somando 17 pequenas unidades de produção coletivas ou familiares. Com isso, centenas de extrativistas foram motivados a se manter na floresta de forma digna sobrevivendo de sua atividade tradicional. Assim, a mata continua em pé e os seus moradores não precisam migrar para tentar subempregos nas cidades ou para atividades como a agropecuária e o desmatamento ilegal. Essa estratégia foi uma forma de reverter as consequências da falência do modelo convencional de produção da borracha. Praticado desde o início da era industrial, esse modelo tornou-se obsoleto e insustentável para os extrativistas da Amazônia. Depois do ciclo da borracha, as comunidades ficaram abandonadas. Veio a substituição das florestas pelo pasto e pela soja, sendo destruídos milhares de hectares de seringais nativos com toda sua biodiversidade ainda não estudada.
Hoje, a Rede Encauchados conta com o apoio da Fundação Banco do Brasil/BNDES e da “Redes ECOFORTE de Agroecologia”, consolidando-se como um empreendimento que gera trabalho, renda, empoderamento e inclusão socioeconômica nesses seringais reativados, o que significa a preservação de grandes áreas de mata nativa.
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