Rodrigo Avalhaes Marçal

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AS MÃOS QUE CRIAM, CRIAM O QUE?

Retratos em barro de um bioma exuberante. A menor entre todas as unidades biológicas
brasileiras é a maior planície de inundação do mundo. O Pantanal. Que ganha, através das
mãos de um notável mestre, contornos fieis da fascinante fauna que se modela no barro in
natura. Animais pantaneiros. Entre eles a inconfundível figura da mãe onça com seus filhotes,
repousando sobre o tronco de uma árvore.

Origem de tudo, a matéria prima em si, já é fruto de alquimia. Coletadas em Campo Grande e
Rio Verde, as duas variedades de barro que se misturam para alcançar a proporção e o ponto
ideal de queima, garantem a qualidade da cerâmica. Conhecimento que Rodrigo já herdou da
mãe e do padastro que experimentalmente testaram, erraram, acertaram, e desenvolveram
uma técnica própria. “Julio e minha mãe aprenderam tudo na pratica, nunca tiveram ninguém
pra ensinar. Tudo isso a gente já tem em uma especie de catalogo mental.”

A coleta é feita em uma propriedade particular, sede de uma olaria, a Ceramica Campo Grande.
Sempre foi ali onde buscaram argila, desde sua infância. Conhecem o dono, que cede o
material. Cuidam para não causarem nenhum tipo de impacto ambiental. A quantidade é
mínima, e a coleta feita sempre nas margens, de uma maneira que garanta não assorear o leito
do rio. E assim a natureza se regenera.

Dessa forma permanecem fazendo. "Quando precisa a gente desce no córrego lá com o sarrafo
e o saco de estopa e sobe com o saco nas costas. A madeirinha que a gente usa, a gente
mesmo tem que ir na fazenda pegar.” Procuram, caídos ao chão, por pedaços de galhos,
deixados para trás pela natureza. Recolhem o que já está derrubado, reúnem, trazem o próprio
carro para fazer o transporte. A madeira é cortada nas medidas específicas. Rodrigo modela,
deixa secar - de 3 a 4 dias, segue para o forno, faz a queima. Depois vem a pintura, a lavagem
dos tocos e a união da ceramica com a madeira. Um processo longo, em etapas, que toma
entrega e tempo. Uma minuciosa tradição que se tornou um artesanato referencial no estado.
Arte popular que reverencia o bioma que lhe permite ganhar vida.

QUEM CRIA?

O percurso de Rodrigo Marçal com o artesanato praticamente se confunde com sua própria
historia de vida. A mãe, Joana de Lurdes Avalhaes Marçal se iniciou no ofício em 1989. Rodrigo
tinha 6 anos. O padastro, Julio Cesar Nunes Rondão, era ceramista. A casa, um atelier
preenchido por adultos e crianças, modelando juntos. Entre queimas rotineiras, Rodrigo foi
criado. Aos 12 anos, emitiu o primeiro documento que legitimou o futuro ofício, a carteira de
artesão. Passou a comercializar suas peças, com toda a limitação e falta de apoio da época,
desvalorização e preconceito.

Fruto de devoção e resiliência extremas, a atividade passou a garantir a renda e por volta de
1990 mãe e padrasto se viram diante da decisão de deixarem os empregos formais, e serem
sustentados exclusivamente pela tradição artesanal que se estabelecia. Apesar do legado
familiar, Rodrigo sempre imprimiu características próprias em suas criações. Honrando as
raízes, manteve a qualidade do acabamento, a tonalidade das cores, da forma, mas propôs
melhorias. Na tecnica, da modelagem, do uso das tintas, no tempo da produção.

Em 1998 a mãe o padrastro começaram a dar aulas. Em parceria com o Sebrae e o Centro de
Artesanato levaram para os interiores seu conhecimento, ensinaram mais pessoas, alcançaram
mais artesãos. Em 2003 foi o Projeto Sapiquá Pantaneiro, que ensinava crianças pantaneiras.
Tomados pelas lembranças das dificuldades lá do início, a família sempre buscou ensinar quem
tivesse interesse. O chamado por ensinar transformou Rodrigo em instrutor. Em um dos cursos,
pela Fundação de Cultura em 2018 das 20 vagas abertas, receberam o dobro de inscrições:
10% curiosos, todo o restante artesãos em busca de aprimoramento. Quando a mãe Joana
faleceu em 2012, Rodrigo, e outros familiares já garantiam a continuidade do legado familiar.
"Você aprende mais do que você ensina. Isso é o legal em ser um mestre”.

ONDE CRIA?

Na maior planície inundável do planeta, cenário de incrível biodiversidade, o Pantanal sul-
mato-grossense é uma combinação harmoniosa entre água, fauna, flora e gente. Um bioma

sensível, onde o pulso das águas dita o ritmo da vida, dinâmico, complexo e delicado. Não só
pelas suas belezas naturais como também pelo papel que desempenha na conservação da
biodiversidade - esse imenso reservatório de água doce responde pela estabilização do clima e
conservação do solo - o bioma foi decretado Patrimônio Nacional, pela Constituição de 1988, e
Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera, pelas Nações Unidas, em 2000.
Rodrigo Avalhaes Marçal é natural de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. É de lá
que honra e homenageia, através de criações profusas em sensibilidade, a potência e plenitude
da vida selvagem. “A inspiração das minhas peças é a própria natureza, o bicho. Meu pai dizia:
Eu não quero fazer uma escultura, eu quero fazer um retrato."