
Associação das Mulheres Rendeiras de Marechal Deodoro
As mãos que criam, criam o que?
O nome filé vem do francês “filet”que quer dizer rede e, de fato, é um bordado sobre uma rede de fios. Ele é criado com temas florais em cima de uma trama que lembra a rede de pesca dos maridos das artesãs que vivem à beira das Lagoas Manguaba e Mundaú, no litoral alagoano. É lá que as mulheres tecem a própria sobrevivência com fios coloridos e muita paciência. Depois de confeccionar as redes, elas as esticam em um tear de madeira para que se inicie o bordado com diferentes sequências de pontos e cores, que possibilitam variações diversas. Assim, cada artesã pode inovar em seu estilo e criar peças com desenhos autênticos. O pontos básicos levam nomes singulares, próprios do universo feminino e da costa nordestina onde foram criados: espinha de peixe, besourinho, jasmim, rosa, olho de pombo, casa de noca, entre outras tramas.
As produções mais comuns são roupas, toalhas de mesa, xales, peças decorativas como caixas, porta-guardanapo e de utencílio doméstico. Quanto mais fechados são os pontos, mas delicado é o trabalho. A marca do filé alagoano são as cores vibrantes que refletem a tropicalidade presente nas casas, nos barcos e nos figurinos das manifestações folclóricas regionais, como o maracatu, o coco e o guerreiro.
O bordado de filé é tão importante no estado que é registrado como Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas, ou seja, é uma tradição carregada de ancestralidade já que a mulher rendeira faz parte do imaginário popular brasileiro e é, desde muito, transmissora de um conhecimento que permeia a história de muitas famílias desde o período colonial.
Mesmo tendo quem vincule a origem do bordado de filé ao antigo Egito, sua procedência esteve ligada a algumas áreas da península ibérica, nesses últimos séculos, sendo encontrado em localidades de Portugal (como Minho) e da Itália (como Pistoia), em seguida aportando no Brasil colonial onde, possivelmente, a técnica foi repassada às mulheres locais em escolas cristãs católicas. Como no caso de sua ocorrência na península ibérica, por aqui a tradição se estabeleceu na vida das comunidades de pesca lagunares e costeiras de Alagoas.
Quem cria?
A Associação das Artesãs de Marechal Deodoro – AMUR é composta por cerca de 20 mulheres que se dedicam ao bordado confeccionando peças de vestuário e para a casa. É o fio que conecta essas mulheres, entre gerações de uma mesma família. Com paciência e maestria seguem fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família já faziam, mas revisitam e atualizam as formas e os pontos que fazem hoje. De modo que estão, ao mesmo tempo, com um pé no passado e outro no presente.
Após um projeto realizado com o apoio da ArteSol e do Instituto Lojas Renner a equipe lançou uma linha de novos produtos em 2016, incluindo cestas e portas-guardanapos com uma renda mais fina e delicada que exibe uma nova paleta de cores.
Onde criam?
As bordadeiras da AMUR vivem em Marechal Deodoro, primeira capital de Alagoas, onde as tramas da renda são inspiradas nos portões e janelas das casas históricas. Tombada como Patrimônio Histórico Nacional, a cidade fica entre o litoral do estado e a cenográfica Lagoa Manguaba, preservando um pequeno centro com arquitetura colonial. A receita da renda é muito significativa para a economia local. Além disso, o artesanato é um conhecido atrativo turístico para visitantes que, em geral, chegam ao município atraídos pela cenográfica praia do Francês, pela arquitetura de igrejas e construções históricas, e também pela cultura popular local que ainda inclui as bandas de pífanos, grupos folclóricos e outras manifestações musicais.
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