
Carlos Henrique Soares
As mãos que criam, criam o que?
A xilogravura se caracteriza por um dos métodos de impressão mais antigos, em que se esculpe uma figura em uma superfície de madeira, com o uso de goivas (instrumentos com lâmina afiada). Depois essa figura é coberta com tinta e impressa em papel ou tecido.
Carlos é um poeta da imagem que lê a literatura de cordel e cria uma representação imagética para ela. Por ser a apresentação do cordel, a capa tem grande importância, pois é a partir dela, principalmente, que o leitor se interessa por lê-la.
Também se dedica à litografia, à escultura e à xilogravura de lambe-lambe. Com Yili Rojas, artista gráfica colombiana, que atualmente mora na Alemanha, estabeleceu trocas artísticas, em que os dois compartilharam seus saberes, com a xilogravura e lambe-lambe.
Quem cria?
“Toda criança já nasce artista. Depois a gente desvirtua com o tempo. Toda criança pega qualquer coisa e cria algo com aquilo. E com o tempo a gente acaba esquecendo isso”.
A infância de Carlos Henrique Soares (1973) mostra quão inventiva e criativa é a sua alma, e como foi natural para ele desenvolver as suas habilidades artísticas. No caminho de sua casa para a roça, Carlos Henrique catava as cajaranas, fruta também conhecida como cajá-manga, e com elas fazia bóias de galão para rede de pescar. Com essa atividade, contribuía com a renda familiar. Até que os pescadores começaram a substituir as boias de casca de cajarana por isopor. Foi então que decidiu experimentar outra coisa, e com as cascas de cajarana que ainda tinha, Carlos Henrique construiu casas em miniatura, retratando as vilas de casas de taipa da região, e as vendia na feira.
Quando começou a frequentar a escola, aos 10 anos de idade, teve a ideia de fabricar os seus próprios carimbos, pois os seus colegas tinham e ele não. Entalhava em pedaços de madeira figuras dos personagens do Cariri que logo fizeram sucesso. Como seu pai, além de pedreiro também era carpinteiro, Carlos aprendeu a mexer com a madeira, fazendo bancos e caixa para engraxar. Até os seus 18 anos vendeu os seus carimbos, as esculturas de casca de cajarana, além de vender picolé e panquecas, engraxar sapato e lavar carro. Também trabalhou como servente na construção civil, sem nunca parar de se dedicar ao artesanato.
Criado na Rua das Cacimbas, local estigmatizado como um dos mais violentos da cidade de Crato, no Ceará, ele viu muitos de seus amigos de infância morrerem ainda jovens em confrontos com a Polícia, ou serem presos. Carlos Henrique escolheu seguir a sua pulsão de artista e hoje é uma importante referência da xilogravura contemporânea brasileira.
Sempre achou muito bonitas as capas dos cordéis que comprava para incentivar a leitura dos jovens do grupo, do qual era presidente, da Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Cacimbas. Não sabia como eram feitas aquelas capas, até quem um dia recebeu a visita de um amigo que viu os seus trabalhos e o convidou a fazer a capa de um cordel. Foi então que Carlos descobriu que o que fazia desde criança era algo muito parecido com a técnica da xilogravura.
Em dezembro do mesmo ano, 2001, Carlos foi convidado para integrar a Academia dos Cordelistas de Crato, Associação de poetas da qual fez parte por 20 anos e onde produziu mais de 400 capas. Esse foi um marco na vida de Carlos, porque a partir daí seu nome ficou conhecido no Brasil e em outros países, como Colômbia, Argentina e Alemanha.
Carlos é mestre da cultura e já formou muitos aprendizes na xilogravura. Em sua casa tem um atelier, onde imprime xilogravura de cordel para trabalhos pequenos e para dar oficinas para as crianças e jovens. As gravuras maiores imprime manualmente, usando as costas de uma colher.
“Uma das coisas que eu mais curto é o repasse. Uma coisa na minha vida que eu não queria era ser professor, mas virei professor sem querer”.
Onde cria?
O Crato é um município localizado no Cariri cearense, mesorregião conhecida popularmente como o "Oásis do Sertão", pelas características climáticas que apresentam maior umidade e a presença de matas mais densas de cerradão. A cidade se encontra aos pés da Chapada do Araripe e integra a Região Metropolitana do Cariri com cerca de 133.031 habitantes.
É caracterizada pela forte presença de expressões regionais, sendo uma das cidades mais antigas do Ceará. Ali vive um povo com raízes profundas em conhecimentos e memórias que se fazem presentes nas festas de reisado, coco, maneiro pau e bandas cabaçais.
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