
AAMOM - Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho
As mãos que criam, criam o que?
Falar de nossa arte é mexer com o coração
Dizer a sua história com muita emoção.
Nas mãos de seus artistas oleiros
Existem muitas e muitas criações
Paisagens, figuras e coração.
Há séculos, passando de geração a geração.
Cordel de Maria Cristina Sales Leão
Ainda que matéria inerte, o barro é na relação com quem o molda, agente transformador. Contém em sua disforme massa a origem mitológica da vida. A materialização proposta na técnica ancestral aprendida por oleiros em Maragogipinho é o que institui a profunda relação dos habitantes com o território.
Após a coleta do barro em jazidas da região, a massa é pisada e preparado para a fabricação das peças. A escolha da técnica de modelagem depende do tipo de peça a ser fabricada, pode ser realizada à mão, com uso do torno ou moldagem (utilização de formas previamente moldadas). Tais técnicas registram o contato e troca entre povos indígenas, escravos e portugueses.
Enquanto o processo de extração da matéria prima, tratamento, modelagem e queima são atribuídos aos homens, o acabamento das peças é tarefa feminina.
A peça pronta é posta para secar ao sol, para que se possa dar início ao processo de acabamento e ornamentação. Usa-se na pintura a tinta esmalte ou o tauá e a tabatinga, pigmentos de tipo mineral. O uso de tais pigmentos é reconhecido em técnicas ameríndias ancestrais, porém os desenhos registram a antiga tradição de flores e hachurado deixados pelos colonizadores açorianos. Para dar brilho e deixar a peça mais resistente, antes da queima é realizado o processo de brunimento com auxílio de uma pedra lisa e circular.
Quem cria?
Foto: Iaçanã Simões
É no território carregado de história onde institui-se, em 1988, a Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho, a AAMOM. Como o próprio nome sugere, é através da união entre todos os envolvidos na cadeia produtiva do grande polo cerâmico, que se intenciona fazer-se mais forte. O ofício ancestral, passado de geração em geração, é reconhecido não só como fonte de renda, mas também por seu potencial cultural. Isso porque é no cotidiano do trabalho que o artesão se reconhece como sujeito de uma história em constante formação.
O papel individual é reforçado pela união do grupo composto por mais de duzentos associados, sendo cinquenta deles ativos. São homens e mulheres com idades entre 24 e 85 anos que dividem-se nas tarefas e produzem peças das mais diversas, desde objetos utilitários como panelas e moringas, à obras decorativas e imagens sacras.
Ainda que nem todas as olarias do distrito sejam associadas, registra-se uma produção mensal de mais de 5.000, distribuídas para diversos estados brasileiros. Além de lojas especializadas, as peças são vendidas na tradicional Feira dos Caxixis que há mais de 300 anos ocorre no feriado da semana santa.
Onde criam?
Foto: Iaçanã Simões
Na região do Recôncavo Baiano encontra-se o distrito de Maragogipinho, pertencente à cidade de Aratuípe. O território é reconhecido por suas olarias e mais de 80% da população, de pouco mais de 3.000 habitantes, ocupa-se primordialmente do ofício de oleiro que configura-se como sendo a principal fonte de renda. Às margens do Rio Jaguaripe espalham-se dezenas de olarias, configurando o maior centro cerâmico da América Latina.
As olarias de Maragogipinho possuem uma estrutura muito particular, que remete à herança ameríndia. As paredes são madeiras em estado bruto alinhadas com espaço entre elas, cobertas com palha de piaçava. O telhado é fechado com telhas de barro ou amianto, sendo o segundo mais raro. Consequência dos vãos entre cada estaca é um espaço arejado e com iluminação natural; o ar que circula auxilia na secagem das peças, que leva de dois a cinco dias, dependendo do clima.
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