
Casa do Artesão de Corumbá

As mãos que criam, criam o quê?
Salsaparrilha
Seu Angelino e Davi herdaram a técnica do trançado em fibra de salsaparrilha da avó e o conhecimento ancestral foi desenvolvido pelos irmãos na prática. A colheita do cipó, nativo de áreas de morraria da região, na divisa entre Brasil e Bolívia, demanda atenção e cuidados específicos. Resistente e flexível, é um cipó trepadeira que para o artesanato deve ter em torno de dois centímetros de diâmetro e coloração castanho escura. Os caules são cortados de forma que ocorra rebrota e uma zona só volta a ser explorada 4 anos depois, seguindo práticas de manejo conservacionista. Em razão do desmatamento, está cada vez mais difícil encontrar a planta, demandando expedições cada vez mais longas mata adentro para selecionarem o melhor material para o artesanato.
Quando jovens aprenderam três modelos de cestos, peças tradicionais de uso cotidiano. Ao longo dos anos desenvolveram vários outros produtos. Davi é conhecido por dar qualquer forma desejada à fibra, como os famosos peixes da região pantaneira.
Aguapé
"Quando aprendi a trançar, aprendi igual índio, porque eu sou índio e é assim que se faz. Tem que prender a trança no pé, senão parece que não sai direito, fica frouxa" Catarina
Catarina aprendeu a técnica de trançado tradicional de sua etnia guató com sua sogra em Corumbá. Desde 1974 a artesã dedica-se ao ofício, envolvida no processo que inicia-se com coleta da fibra, passando por beneficiamento e trançado, criando produtos mais variados como bolsas, chapéus, esteiras, cestas, jogos americanos. O aguapé é colhido no rio, respeitando os ritmos de crescimento da planta de maneira sustentável. De cada pé Catarina tira no máximo 3 talos com as mãos, para que torne a crescer. É preciso encontrar os aguapés mais saudáveis, longe de regiões poluídas, pois são mais resistentes para o artesanato. Após coleta a fibra leva de 4 a 5 dias para secar e a partir daí é possível construir as longas tranças que são costuradas com auxílio de uma agulha, formando a estrutura das peças.
Quem cria?
A Casa do Artesão de Corumbá funciona em um prédio histórico, patrimônio da cidade que até o ano de 1970 abrigou o presídio municipal. As celas reformadas passaram a ser espaço de criação e comercialização das obras ali produzidas. Hoje são onze artesãos que trabalham com as técnicas variadas, como os irmãos Angelino e Davi Nazario que trabalham com a salsaparrilha e Catarina Ramos da Silva que trabalha com a aguapé.
Seu Angelino e Davi herdaram a técnica da avó e são os únicos a produzirem peças com a fibra de salsaparrilha, cada vez mais escassa na região.
Dona Catarina é também conhecida como índia, e resgata suas raízes da etnia guató através do trabalho na fibra de aguapé coletada nas regiões alagadas do município.
Onde criam?
O município de Corumbá fica às margens do Rio Paraguai, na divisa entre o Brasil e a Bolívia, cercado por uma paisagem natural exuberante. É a maior e mais bem estruturada cidade do Pantanal. O traçado urbano foi todo planejado, acompanhando o curso do rio e inclui muitos museus e casario bem-preservado, com destaque para o Casario do Porto, em frente ao cais, com cerca de 80 imóveis do século 19 (com influência da arquitetura europeia) tombados pelo Iphan. O município exibe também uma Estrada-Parque, em que se pode avistar muitos animais do Pantanal.
A história de Corumbá é marcada por uma história de conflitos, tendo sido palco da Guerra da Tríplice Aliança, quando o Brasil se juntou à Argentina e ao Uruguai para juntos derrotarem o Paraguai. Corumbá chegou a ser ocupada pelas tropas paraguaias durante dois anos, de 1865 a 1867. Outro destaque na história do município é sua importância portuária. Com a abertura dos portos brasileiros e com o comércio junto a outros países latino-americanos, Corumbá chegou a ter o terceiro maior porto da América Latina, o que durou até cerca de 1930. Nas próximas décadas, o transporte fluvial começou a perder espaço para o fluvial. Hoje, as maiores fontes de renda da cidade são turismo e comércio, além de pecuária. A produção de artesanato ainda é tímida, mas tem potencial para geração de renda com pouco impacto ambiental.
Fonte: Embrapa / Correio de Corumba
Rede nacional do artesanato
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