
Associação das Fiandeiras Tecelãs e Bordadeiras de Natalândia (Central Veredas)

As mãos que criam, criam o que?
"Topar um vivente é que era mesmo grande raridade. Um homenzinho distante, roçando, lenhando, ou uma mulherzinha fiando a estriga na roca ou tecendo em seu tear de pau, na porta de uma choça, de buriti toda."
João Guimarães Rosa
A pluma de algodão cardado é manejada com destreza pelos rápidos dedos das fiandeiras. É preciso coordenar os movimentos dos pés no pedal da roca com as mãos que esticam e torcem a fina penugem branca a ser fiada. Uma dança graciosa ritmada pelo silêncio do tempo que passa, pelo canto dos mutirões ou conversas cotidianas. O trabalho com algodão no noroeste de Minas Gerais é antigo e tradicionalmente ocupação doméstica e feminina. Antes para suprir as necessidades internas do lar, hoje é fonte de renda única ou complementar das artesãs, que sustentam, vivem, criam com o ofício.
O algodão fiado pelas associadas pode ser fino, médio ou grosso. Cada gramatura conta com um tempo diferente para a produção, sendo o mais fino o mais demorado e assim sucessivamente. Os novelos redondos são abertos na meadeira, formando meadas que serão tingidas com pigmentos naturais da fauna local e, depois, retornarão à forma de novelo.
A tecelã recebe os novelos e monta em seu tear de pedal o urdume, conjunto de fios que sustenta a trama. A navete contendo o fio da trama atravessa de um lado à outro a extensão do urdume, formando o tecido.
Além das fiandeiras e tecelãs a associação conta também com um número crescente de bordadeiras que criam com pontos e cores ricas representações da fauna e flora do cerrado mineiro.
Quem cria?
Foto: Raquel Lara Rezende
A Associação dos Artesãos de Natalândia – “Fio Ação”, foi fundada em 2006, com sua sede localizada no Centro Comunitário. As fiandeiras e as tecelãs juntaram-se para recomeçar a trabalhar e assim aumentar sua renda. O grupo, que conta hoje com doze associadas, faz parte de uma rede, uma cadeia produtiva chamada Central Veredas, onde seu trabalho depende do trabalho de outras artesãs, às vezes até de outras Associações parceiras.
A Associação de Artesãos de Natalândia integra a Central Veredas, organizada em Rede Solidária compreende outros 9 núcleos de produção instalados nos municípios de Arinos, Bonfinópolis, Buritis, Riachinho, Sagarana/Arinos, Serra das Araras/Chapada Gaúcha, Uruana de Minas, Barra do Pequi e Urucuia. Com a participação solidária de artesãos, constituiu parcerias para consolidar a sua estrutura e fortalecer os núcleos, garantindo-lhes acesso ao mercado, qualificação, aplicação de preços justos, divulgação dos produtos artesanais, fruto do trabalho de aproximadamente 146 associados, exercendo sua defesa socioeconômica e ambiental combatendo os trabalhos escravo e infantil e promovendo a igualdade de gênero.
Onde criam?
O povoado chamava-se Flor-de-Minas, quando era ainda uma pequena vila, expressando com o nome o desejo de um futuro promissor. Tempo depois, passa a homenagear seu primeiro benfeitor, José Natal, chamando-se Natalândia. No ano de 1995 eleva-se à categoria de município, emancipando-se de Bonfinópolis.
O cerrado, a mata seca e as veredas são os grandes protagonistas do cenário paisagístico da região, sertão do noroeste mineiro, e que trazem aos sertanejos importantes possibilidades de sustento, como os buritis, palmeira típica das áreas de vereda. Muitas veredas têm desaparecido com o aumento do desmatamento e o uso abusivo da água pelo agronegócio, o que tem impactado, por exemplo, o plantio do algodão crioulo, do qual viviam várias famílias. O incentivo, nesse sentido, ao artesanato na região como possibilidade econômica, estimula a produção do algodão, e também levanta a urgência de um debate responsável em torno do agronegócio, e de medidas mais eficazes para o controle ambiental da região.
Rede nacional do artesanato
cultural brasileiro
