
Artesãos do Mamanguá
As mãos que criam, criam o que?
Os artesãos do Mamanguá são exímios no entalhe da madeira caxeta, uma espécie de árvore da Mata Atlântica que se debruça sobre o mar na exótica formação natural de Paraty. Ali, em pequenos vilarejos de pescadores entre a mata e o oceano, essa espécie nativa brota nos alagados com sua madeira extremamente leve e de fácil manuseio que é transformada em miniaturas de canoas, traineiras, saveiros, escunas, veleiros e outros barcos que são praticamente pequenas réplicas das embarcações usadas pelos locais. São barcos dos mais diversos tipos e tamanhos que navegam tranquilamente no mar abrigado de águas turquesas que banha as comunidades locais. O artesanato é finalizado em madeira crua ou pintada com tons vibrantes, em modelos que vão de 1cm a 2m de comprimento. Remos, gamelas e outros utensílios domésticos também são comuns nas produções em núcleos familiares.
A atividade artesanal é economicamente importante para homens, mulheres e jovens de muitas famílias. A tradição é passada de geração para geração através da observação e experimentação. As crianças a partir de 8 anos já começam a se interessar e, quando adolescentes, participam da produção, reproduzindo a técnica dos pais e mesmo aprimorando os modelos, acrescentando inovações. Desde a década de 70, com a chegada do turismo, esses barquinhos começaram a ser comercializados em Paraty, mas, em geral, os artesãos só trabalham com encomendas.
No início dos anos 2000 a Esalq (USP) e o Ibama realizaram uma diagnóstico da exploração da madeira nativa da região e desenvolveram um plano de manejo com os artesãos que aliava o saber tradicional e o conhecimento científico sobre a biologia e ecologia da caixeta. Surgiu, assim, um sistema sustentável adequado à pequena escala de produção, em que se procura reduzir o desperdício, evitar a morte das árvores no período mais chuvoso e facilitar a colheita.
Quem cria?
As cerca de 120 famílias que vivem espalhadas em pequenas comunidades do Saco Mamanguá compõem uma população tipicamente caiçara (miscigenação do índio com o negro escravo e o branco europeu) que tira seu sustento tradicionalmente da pesca, do artesanato e da agricultura de subsistência. Mais recentemente, os moradores prestam serviços aos proprietários de casas de veraneio no local ou se beneficiam do crescimento do ecoturismo, atuando como barqueiros, guias, cozinheiros, ou produzindo artesanatos para vender aos turistas. Desde 1982, a comunidade está articulada através da Associação de moradores e Amigos do mamanguá – Amam, localizada na comunidade do Cruzeiro. Não existe uma associação específica dos artesãos, mas eles estão espalhados por praticamente todas as comunidades do Saco.
Em 2003, o Museu do Folclore Edson Carneiro (do Rio de Janeiro), em parceria com a Artesol e com a associação local realizou oficinas de arte para os artesãos locais e organizou um catálogo intitulado “barcos do Mamanguá” distribuído para os moradores e lojas do Rio de Janeiro com contatos dos artesãos locais.
Onde criam?
A singular formação do Saco do Mamanguá está localizada na Baía de Paraty-Mirim, litoral sul-fluminense, recortada em 33 pequenas praias e costões rochosos, abrigados sob os pés de montanhas e morros com densa vegetação de Mata Atlântica.
Sua exuberância natural se manifesta em um ecossistema marinho que inclui praias, rios, restingas, mangue, encostas rochosas e densas florestas. No mar, as águas ricas em nutrientes compõem um verdadeiro berçário marinho. Por sua importância ecológica, a formação está protegida por duas unidades de conservação que se sobrepõem: uma federal, a Área de Preservação Ambiental (APA) Cairuçu, no lado direito, e outra estadual, a Reserva ecológica da Juatinga, mais restritiva, que engloba o lado esquerdo do Saco.
Ao todo, são 8 km de comprimento e, em média, 1,5 km de largura de um braço de mar, que, embora conhecido como “fiorde tropical”, é uma entrada de mar na mata que se conecta com um rio no final. Ao fundo do braço, o taboal, o mangue e o caixetal crescem nas áreas úmidas. Nas encostas dos morros, as matas abrigam animais silvestres e muitas espécies de pássaros Os artesãos vivem em comunidade de Cruzeiro, Baixio de Fora, Baixio de Dentro, Morro da Bela Vista e Curupira.
Saiba Mais:
Mamanguá: Berçário Marinho e Reduto Tradicional de Caiçaras - Paulo Nogara & Elias Fajardo & Araquem Alcantara. 2003
Rede nacional do artesanato
cultural brasileiro
